Alexia Evellyn – Savage Daughters
A music video stirred me. I scrolled to the description, clicked to her Instagram, scrolled to a random post and translated a caption.
The caption moved me to tears…
Another periodic reminder of my wild travels, of my connection to the Earth, of my elephant heart, of my capacity for love and desire for restoration.
Gaia needs her guardians.
Quando menina ouvi desde muito cedo que não era certo confiar em todo mundo. Sempre fui uma criança estranha que ao mesmo tempo em que amava pessoas e amava conversar, vivia num mundo interno e imaginário que eu amava criar.
Vivia mergulhada muito mais em livros que no mundo real. Amava ficar sozinha e sonhar com o dia em que poderia cantar, dançar e criar todos os dias.
Minha mãe me conta até hoje que eu era tão aberta à estranhos e os tratava tão bem que ela tinha medo de algo acontecer comigo. Porque geralmente eu conhecia uma pessoa e já saia conversando e pegando na mão dela. Ela me dizia que tinha medo de alguém me levar embora.
Refletindo enquanto escrevo isso percebo que o sentimento e intuição de minha mãe era genuíno e sábio.
Não muito mais tarde, através de algumas experiências dolorosas que muitas mulheres e crianças passam, acabei sendo levada embora. Talvez não como minha mãe alertava, mas fiquei com um vazio gigante sem aquilo que era uma de minhas maiores forças.
Tendo a minha confiança nas pessoas quebrada, minha criança foi levada.
Aquela pureza e abertura, aquele sorriso imediato, aquela fé infindável na magia, nos humanos e na vida. Aquele sentimento de que eu era guiada todo o tempo como personagem de um livro que amava.
Por anos vaguei sentindo que nunca me recuperaria desse vazio. Que nunca conseguiria retomar essa palavra que me é tão essencial: confiança.
Fui até o fundo de mim e beijei as sombras mais profundas, minhas margens mais fecundas para desfazer o véu. Encontrei lá uma pequena rachadura, de onde brotavam gotas tímidas e teimosas. A nascente estava seca. Dancei e chorei a dor naquele solo árido. Pelo esforço contínuo em reviver aquela terra, meus pés cansados quase me fizeram desistir. Por vezes me deixei cair naquela areia onde antes corria um rio e de meus olhos não saia nada.
Vazio, o não conseguir sorrir ou chorar.
Me senti afundar naquela areia e quando achei que não havia mais nada por que me levantar, dentro de um túnel de areia cai e me vi naquele universo…
༺ 🥀 ༺
Atômica e atônita vi aquela dimensão que eu tanto cultivava e cultuava quando criança.
Aquela menina e seus sonhos ainda estavam lá.
Todas as construções que ela fez, intactas e esquecidas. Como um objeto que amamos e esquecemos de limpar na prateleira.
Todos os dias eu ia lá tirar a poeira daquele lugar. Chorava e limpava. Chorava e murmurava.
Depois de um tempo voltei a cantar.
E muito tempo depois voltei a dançar.
O universo é mesmo engraçado e mágico.
Con•fiar, não por acaso significa ter fé.
Como posso eu estar aqui para aprender a ser o que sempre fui?
Como posso eu estar aqui para aprender a voltar para aquele lugar?
Rio e choro com a sabedoria do tempo, da natureza e do invisível.
E hoje digo àquela menina: é certo confiar 🌿
As a little girl, I heard from a very young age that it wasn’t right to trust everyone. I was always a strange child who, while loving people and loving to talk, lived in an internal and imaginary world that I loved to create.
I was immersed in books more than in the real world. I loved to be alone and dream of the day when I could sing, dance and create every day.
My mother tells me to this day that I was so open to strangers and treated them so well that she was afraid something would happen to me. Because I would usually meet someone and start talking and holding their hand. She would tell me that she was afraid someone would take me away.
Reflecting as I write this, I realize that my mother’s feelings and intuition were genuine and wise.
Not much later, through some painful experiences that many women and children go through, I ended up being taken away. Maybe not as my mother warned, but I was left with a huge void without what was one of my greatest strengths.
Having broken my trust in people, my child was taken away.
That purity and openness, that immediate smile, that endless faith in magic, in humans and in life. That feeling that I was guided all the time like a character in a book I loved.
For years I wandered feeling that I would never recover from that emptiness. That I would never be able to reclaim that word that is so essential to me: trust.
I went deep inside myself and kissed the deepest shadows, my most fertile shores to undo the veil. There I found a small crack, from which timid and stubborn drops sprouted. The spring was dry. I danced and cried in pain on that arid soil. Due to the continuous effort to revive that land, my tired feet almost made me give up.
Sometimes I let myself fall on that sand where a river once ran and nothing came out of my eyes.
Emptiness, not being able to smile or cry. I felt myself sinking into that sand and when I thought there was nothing left to get up for, I fell into a sand tunnel and found myself in that universe…
༺ 🥀 ༺
Atomic and astonished, I saw that dimension that I cultivated and worshiped so much as a child.
That girl and her dreams were still there.
All the constructions she made, intact and forgotten. Like an object that we love and forget to clean on the shelf.
Every day I went there to dust that place. I cried and cleaned. I cried and murmured.
After a while I started singing again.
And a long time later I started dancing again.
The universe is truly funny and magical.
Trusting, not by chance, means having faith.
How can I be here to learn to be what I always was?
How can I be here to learn to go back to that place?
I laugh and cry with the wisdom of time, nature and the invisible.
And today I say to that girl: it is right to trust 🌿